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  • Foto do escritorPedro Pirim

“A vida imita a arte” ou “A arte imita a vida”?


“A vida imita a arte” ou “A arte imita a vida”?


Queria ter pensado em um título mais original. Mas o que é ser “original”, afinal?

A primeira frase do título desse texto foi proferida por Oscar Wilde, em contradição a Aristóteles que diria que a “arte imita a vida”. Nas minhas palavras, e mais recentemente por experiência própria, eu diria que “a arte ensina à vida”. Ou: “a arte ensina a viver”.


Explico porque. Dificilmente, uma pessoa, ser-humano, homo-sapiens, seja seu amigo, colega de trabalho, chefe ou liderança vai te dizer de maneira clara e verdadeira o que você pode fazer em relação a seus hábitos, práticas ou comportamentos para “melhorar”. Quando eu digo “melhorar”, não quer dizer que você está mal ou “pior”. Significa simplesmente sentir-se melhor em relação a si mesmo e descobrir maneiras de fazer as coisas de forma que você obtenha mais prazer enquanto as faz. Dificilmente também, recebemos bem críticas feitas a nós sem nos sentirmos minimamente incomodados. Na maior parte das vezes lidamos mal com isso. E isso é fonte de mal-estar.


Eu sempre fui muito ansioso. Nível hard do videogame da vida. Tão ansioso que seria capaz de paralisar diante de um obstáculo e não conseguir fazer mais nada. Por outro lado, essa ansiedade, depois de certo tempo acumulada, viria ao mundo em duas formas: implosão ou explosão. Não me pergunte qual é pior. Mas tentando resumir: A implosão leva a estagnação, estafa, insônia, exaustão e em alguns casos à depressão. A explosão leva a conflitos diretos sem moderação, atropelamentos, “surdez seletiva” e brigas. Ninguém gosta de brigar. (mentira, tem gente que gosta)

Viver ansioso fez com que durante muito tempo eu quisesse resolver as coisas mais rápido. Afinal de contas, vivemos na era dos dados, na qual você deve pensar tão rápido quanto uma máquina se não você pode ser substituído por ela. Então eu aprendi a fazer tudo com pressa, pra ontem, com foco no resultado e zero no auto-cuidado. Obviamente que o resultado acumulado de anos vivendo com pressa, fez com que, assim como muitos “jovens” da minha geração, sentíssemos que já estamos velhos aos 33 anos de idade, e fez com que a nossa vida fosse muitas vezes pautada pela linha de chegada dos 30, e não pelo sabor do processo. Nesse meio do caminho eu aprendi a fazer tudo correndo e desaprendi coisas da minha infância e adolescência que estou tendo a chance de recuperar agora. E que bom por isso.

Comecei a tocar piano quando devia ter uns 6 anos de idade, depois passei para outros instrumentos mas larguei. Comecei a fazer teatro com uns 8 anos de idade, fui até uns 18 e parei. Recentemente eu resolvi voltar a tocar. A arte me acalma. O piano é meu divã. O palco, agora virtual, é o local onde eu posso fingir ser eu mesmo. Só estou na 3ª ou 4ª aula dessas duas modalidades, mas eu já aprendi com meus professores, Daniel Herz e David Rosenblit muito mais do que qualquer “avaliação 360 no trabalho” ou “feedback de chef”. Ainda viciado em querer fazer as coisas com pressa pra “entregar rápido”, eu sento ao piano e teimo em querer sair de lá dando um show. Naturalmente os dedos são atropelados pelos pensamentos e a coisa simplesmente não funciona. No teatro, eu entro em cena quando não sou chamado, penso muito sobre o que eu vou falar e escuto pouco o que os outros tem a dizer. Essas reflexões não vieram por conta própria. Vieram dos meus professores. Com eles estou reaprendendo a aprender.


O meu professor David me disse na nossa 3ª aula: “A graça é aprender a tocar com ritmo. Mas pra isso você tem que começar devagar. Muito devagar. O importante é o ritmo.” (me veio a imagem de um trem saindo da estação. Lento inicialmente, mas com ritmo, depois engatando)

O meu professor Daniel me disse na nossa 3ª aula: “Na cena de improvisação o risco é que quando abrimos as nossas câmeras e entramos em cena queremos falar algo. Mas se uma pessoa acabou de entrar em cena, deixe ela primeiro contar à plateia quem ela é para depois você entrar. Não tem problema ficar no palco e não falar nada. Tem que ir com calma. Sem afobação. Sem ansiedade”.


Parece óbvio depois que é colocado dessa forma. Mas o óbvio precisa ser dito, e repetido. Quantas vezes repetimos os mesmos erros, maneirismos, hábitos que nos causam mal e mal aos outros. Eu provavelmente já ouvi de outras pessoas ao longo da vida para fazer as coisas com mais calma e menos pressa. Mas talvez eu tenha escolhido não ouvir. Dependendo da maneira como nos é ensinado muitas vezes preferimos não aprender. Sim, nós somos seres complexos e a educação muitas vezes falha porque cada um tem um jeito, um tempo e um momento de aprender.


Eu aprendi que não importa se “a arte imita a vida” ou se “a vida imita arte”. O que importa pra mim, e se me permitem deixar uma reflexão, é que: A arte ensina a viver.

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